Talvez conceitos da trajetória chinesa possam servir de exemplo para o Brasil. Em 1974, o Brasil restabeleceu relações diplomáticas com a China. A renda per capita brasileira era US$ 1.004 por ano — seis vezes a do chinês de US$ 160,00. Atualmente, a economia chinesa, de US$ 14.363 trilhões é oito vezes o PIB brasileiro de US$ 1.868 trilhão. O Brasil soube crescer! Em 1973, o país cresceu 14% e, nos anos anteriores, era uma ilha de crescimento em meio a um mundo em recessão.
Deng Xiaoping transformou uma política econômica ideológica em um pragmatismo, visando à prosperidade. O discurso dele “não importa a cor do gato, se preto ou branco, desde que caçasse ratos”, fez a China iniciar a sua economia de mercado.
Invertido o meio com o fim, nossa prioridade é estabilidade monetária, deixando prosperidade em segundo lugar. Quando cresce nossa economia, elevamos a taxa de juros para manter a estabilidade monetária. Nunca permitimos ao Brasil crescer!
Essa “ilusão da política de juros exorbitantes” foi aplicada por quatro décadas sem resultado. Nossos populistas ainda têm apego aos dogmas econômicos dos quais a China se livrou há quatro décadas para iniciar a sua trajetória de crescimento.
A redução do “custo Brasil” baixaria a inflação e, ao mesmo tempo, impulsionaria o crescimento econômico. Porém, a máquina da administração brasileira é um dos principais componentes do “custo Brasil” que atrasa nosso país.
A grande maioria do nosso povo pertence à “casta inferior”, que arca com muitas obrigações e goza de poucos direitos. A “casta superior” possui muitos direitos e têm poucas obrigações. Existe, ainda, a “casta dos marajás”, que se apropriam de significativa parte da riqueza da nação.
É importante a participação no apoio de reformas estruturantes como as tributária e administrativa. O movimento “Unidos pelo Brasil” defende essa agenda por um Brasil mais próspero. Na China, os corruptos são presos, mas as empresas e os empregos, que são patrimônio da sociedade, são mantidos. No Brasil, as empresas e empregos também são prejudicados.
A China cresceu com uma base industrial forte. Nossa indústria carrega o custo Brasil e não pode competir no mercado nacional e mundial. Para não criar “dinossauros nacionais’’, a melhor proteção é eliminar esses custos, permitindo competitividade. Nações fortes dominam nações fracas pelos seus exércitos. Ao invés dos imensos gastos de enviar fuzileiros pelo mundo, a China envia seus executivos e empresários para realizar investimentos e comércio. Com sua política de “ganha- ganha”, o rastro que a China deixa não é de destruição e sofrimento, mas, sim, uma trajetória de desenvolvimento e prosperidade.
Curiosamente, a geração chinesa que iniciou a caminhada da China rumo à prosperidade não estudou pelo caos da “Revolução Cultural”. Com a prosperidade, construiu milhares de universidades e, ora, possui a maior classe média, de milionários e bilionários do mundo, além de se tornar um centro mundial de inovações.
A China, primeiro, criou sua riqueza e a distribuiu. O Brasil distribui a riqueza que não possui e os deficits criados geram as crises econômicas do país. Um plano para a nação é o que nos falta, juntamente com um planejamento estratégico de curto, médio e longo prazos. Poucos povos são mais disciplinados e patriotas do que o brasileiro. Necessitado de dias melhores, suporta qualquer sacrifício por seus sonhos. Foi essa qualidade que permitiu ao presidente Kubitscheck transformar um país agrícola em uma economia industrial em seu governo, e o presidente Collor, em menos de meio governo, mudou o conceito do Brasil.
Texto escrito por Charles Andrew Tang, Presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil para o Correio Braziliense.
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