organizado pela Coordenação Brasil/China no Sistema OAB, o bate-papo virtual “Análise conjuntural sobre o caso Evergrande” foi realizado nesta segunda-feira (27). Com a coordenação do sr. Sóstenes Marchezine, o evento contou com a participação de pesquisadores e representantes de instituições de caráter público e privado. Tendo como ponto de partida a crise da construtora chinesa Evergrande, o evento discutiu um novo momento de regulamentações da governança chinesa.
Segundo Sóstenes (Vice-Presidente da Coordenação Nacional das Relações Brasil-China e Secretário da Comissão Especial Brasil/ONU, ambas do Conselho Federal da OAB), a questão Evergrande é uma matéria da ordem do dia, que influencia diretamente inclusive a prática dos negócios Brasil-China
Ao lembrar a recente manifestação governamental chinesa contrária às transações financeiras com base em criptomoedas, diz o sr. Thomas Law (presidente do Ibrachina) “vimos o preço do Bitcoin cair” imediatamente. Isso mostra que a China tem capacidade de influir nos mercados em escala global.
Entre as mais de 15 falas de ilustres convidadas e convidados, é consenso de que a China se encontra um novo período regulatório, tendo como objetivo as metas do governo para a prosperidade comum. Para Evandro Menezes de Carvalho (coordenador núcleo de estudos Brasil-China da FVG, e núcleo de Estados dos Países do BRICS da UFF), o que vemos hoje no setor imobiliário é a continuidade desse novo período, antes verificado com a regulação por exemplo da Tencent, Alibaba e educação privada.
Diz Carvalho que, afim de assegurar as metas estabelecidas para o centenário da fundação da RPC em 2049 – como dobrar a população de renda média e o PIB, essas medidas antimonopólio são essenciais. Ainda mais considerarmos as restrições econômicas internacionais que a China vem encontrando no mundo.
Também foi reiterado que o caso Evergrande não terá um impacto semelhante aos eventos de 2008, desencadeados pela falência do banco de investimentos americano, Lehman Brothers. Segundo Luiz Eduardo Vidal, a China passou por inúmeros “ajustes finos” nos últimos anos, citando como exemplo a regulamentação que proíbe bancos de proverem o financiamento para a aquisição de um segundo imóvel. Foi unânime também a posição de que a crise da Evergrande era uma crise já esperada.
A sra. Cláudia Trevisan, do CEBC (Conselho Empresarial Brasil-China), levou a questão sobre o endividamento como engrenagem de crescimento ser um modelo insustentável a longo prazo. Apenas durante o período da COVID-19, diz Trevisan, a dívida global da China cresceu 23% e atingiu o índice de 270% do PIB. Retornando à questão, para Bruno Guimarães (Shūmiàn) esse modelo de crescimento já está em vias de sofrer alterações há pelos menos 10 anos. Lembra Guimarães que na transição de Hu Jintao para Xi Jinping, esse modelo já estava sendo posto em dúvida, o que levou a uma série de “ajustes-finos” para que essas mudanças não fossem sentidas de forma brusca.
O sr. Charles Tang (Presidente binacional da câmara de Comércio e Indústria Brasil China – CCIBC) disse ainda que esse modelo – no qual era “normal empresas se alavancarem” a partir de crédito público – foi suspenso. Nos últimos anos o governo chinês tem orientado que bancos tomassem cuidado com emissão desse tipo de crédito. Lembra a sr. Clarita Costa Maia (Presidente da Comissão de Comércio Exterior a OAB/DF) que o Banco Central da China teria avisado anos antes que não faria resgate financeiro de operações de alto risco.
Essa combinação de fatores fez com que a crise da Evergrande fosse uma crise mais local, e menos internacional. Logo, a regulamentação no setor imobiliário na China não se trata de uma implosão do setor. A própria construtora Evergrande está encontrando formas de pagar parte de sua dívida bilionária e já viu suas ações subirem pelo terceiro dia consecutivo. Isso, segundo Luiz Vidal, mostraria uma confiança do mercado na reestruturação da empresa.
Em relação à preocupação imediata do mercado brasileiro, muito se comentou sobre a queda do preço do minério de ferro. Lembra José Ricardo Junior (CEO da LIDE China) que a China é destino de cerca de 30% dessas exportações, e que o minério de ferro corresponde a 1/3 da pauta de exportação Brasil-China.
Fonte: China.org
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